Este mês de fevereiro faz 23 anos, isso mesmo em fevereiro de 1987 entrava pelos portões da BASE AEREA DOS AFONSOS algumas centenas de jovens sem qualquer previsão do que seria o seu futuro. A partir daquele momento em diante desta quantidade inicial muitos desistiriam, outros muitos sairiam na primeira oportunidade, outros tantos pediriam para serem enviados para outros locais menos exigidos, porém pagariam o preço eterno do arrependimento. Aí sim sobraram alguns poucos que fariam a diferença sendo multiplicados por sua vibração e total dedicação em cumprir o seu dever, mais tarde fazendo parte da inesquecível tropa de guerreiros. Assim começava a formação interior de cada um, a principio, já na incorporação conheciam-se alguns que sem saber seriam sempre nossos amigos. Eram soldados, cabos e sargentos que tinham a função de nos transformar em algo produtivo ou por uma seleção natural separar daquele imenso grupo alguns que fossem diferenciados dos demais. O dia começava cedo, ruim para alguns que gostavam de dormir até mais tarde, no café da manhã alguma coisa líquida parecida com nada e alguns biscoitos dormidos era a primeira refeição, daí começavam instruções de diversos tipos. Vinha à hora do almoço algo também muitas vezes irreconhecível, quando se reconhecia era bem ruim, muito diferente da comida de casa que estávamos acostumados por 18 anos, a tarde outras instruções e aprendizados, no final do dia a tão sonhada hora de voltar para casa um imenso alivio. Depois de alguns meses nessa convivência tão harmoniosa, passamos a achar que era normal e seria aquilo o nosso futuro, com o dia a dia formam-se grupos de amigos de mesmo pelotão, mesmo alojamento, mesma turma de limpeza (quem não se lembra do SGT Hielamo? "hoje eu quero 30 no caminhão", quem vai se esquecer do EMAT?), nesse ponto já tínhamos noção da vida militar daquela época, bem diferente de hoje, chega então o grande dia, a tão esperada e ensaiada formatura, todos recebendo seus uniformes para serem passados, engomados e preparados para o primeiro dia de uso. A formatura, um evento simples sem nenhuma festa pomposa, porem era a maneira mais clara de demonstrarmos aos pais, namoradas e amigos que éramos alguém, havia no rosto de cada um de nós a felicidade e a primeira satisfação do dever cumprido depois de tanto sofrimento.
Desta data em diante muitos foram separados e distribuídos para todas as outras sessões, esquadrões e demais setores existentes por toda a unidade, alguns porem sem saber permanecem em um setor da fábrica, o BINFA - Batalhão de Infantaria, local responsável pela segurança e guarda da BASE AÉREA, escala de serviço apertada, alguns dos mais exigentes comandantes, punições e pernoites sempre constantes no dia a dia, mas já éramos S2 (Soldado de 2ª Classe), era esperada nova turma de recrutas. Seguíamos no toque da banda e comandados pelo MAJ. Dalto, Sgt. Paulo e Cia. Um dia a graça de Deus pairou naquele local e chegava ao BINFA o Asp. Mayworm, peça principal e insubstituível desta historia, na sua mente ele via a mudança daquele local, só que na prática seria bem mais difícil, seria como tirar leite de pedra. Um comandante sem muitos recursos e apoio de seus superiores, uma tropa sem saber como seria dali pra frente, tudo se resumia na vibração de todos e tinha tudo para dar certo. Passado algum tempo criou-se a PA – Polícia da Aeronaútica da BAAF, um grupo até então desconhecido por todos, comandados pelos Sargentos, Hilton, Licínio e Reginaldo, auxiliados pelos Cabos Haroldo, Hélio, Pinto, Pereira entre outros que tinham a autonomia e responsabilidade de terminar a formação que iniciou em fevereiro, separar alguns para a PA, o grupo já contava com alguns mais antigos de turmas anteriores que se juntaram a nossa turma como os S1 Vargas, Poubel, Olavo, Sergio, Marques, Monteiro, Galã, Rafael e vários outros ótimos militares e que se tornaram nossas referencias, outros foram sendo incorporados vindos de turmas posteriores como a 2ª 87, 1ª 2 2ª 88, etc., nossa primeira missão tomar conta do Portão da Guarda da BAAF, um serviço totalmente estressante e ao mesmo tempo divertido, várias e várias histórias se contam desses serviços na guarda, e ainda a hora da entrada o pessoal gritando o número dos plásticos de identificação dos carros, e de vez em quando um "Atenção a Guarda", era tudo muito rápido, hoje sinto saudades.
As coisas iam se encaixando e acontecendo normalmente, as instruções, as aulas de defesa pessoal quem não se lembra do Cabo Leopoldino, embarques e desembarques de aeronaves como C115 – Bufalo ou o imponente CH 34 Super Puma, éramos responsáveis pela segurança do Aeródromo de Jacarepaguá, onde aconteceram as operações Mercúrio I, II e III, acampamentos como a inesquecível Operação Pinguim em Ribeirão Preto - SP, e outras que não escrevo, a PA aos poucos era vista com respeito e uma das poucas coisas que funcionava corretamente servindo de exemplo para outros que chegavam à unidade, uma das lembranças quando as coisas às vezes não funcionavam bem foi o Ten. Mayworm passando pela passarela disse a todos "vocês querem flores, terão flores, querem espinhos terão espinhos", nada mais impediria aquele grupo de ter sua glória. Eram fases difíceis, mas superadas pelo amor à farda. Infelizmente essa Companhia acabou sendo esquecida e transformada em sucata com seus membros praticamente obrigados a se retirarem da FAB, ou serem transferidos para outras sessões, quem perdeu com isso? A própria FAB que nunca mais teve ou terá militares como os "GUERREIROS DE MAYWORM".
Até hoje somos PA's trabalhando em outras profissões, nada tira do sangue o espírito de vibração de cada um de nós. PA 24hs tenho certeza que todos, se pudessem voltariam à mesma unidade com os mesmos amigos, comandados pelos mesmos superiores. A minha vida como a de todos que passaram por isso, seria totalmente diferente se não tivesse entrado na Força Aérea Brasileira.
Um abraço a todos os PA's, desse período, que hoje formam "OS GUERREIROS DE MAYWORM", caso veja esse relato saiba que temos um encontro periodicamente para relembrar essas historias de gloria, esteja desde já convidado a participar. Lembre-se "NINGUEM ESTÁ SOZINHO"...
Felicidades a todos,
L. MARTINS - S1 PA BAAF 87-159.