Este sou eu

sábado, 24 de março de 2012

Meu pequenino Mirahy - Part II

 O fato de não podemos voltar ao passado não quer dizer que devemos esquece-lo, há alguns dias atrás escrevi sobre minha infância ou parte dela, o que me deixou muito feliz, pois, além de relembrar momentos inesquecíveis, vi que outros partilharam do mesmo sentimento.
Diante da repercussão e da satisfação de ter escrito sobre o assunto, hoje quero contar um pouco mais da minha história. Eu era muito tímido, muito acanhado, demorei a cruzar a linha que separava a infância da adolescência, (na minha época não tinha pré-adolescente), mas isso não foi para mim um tormento, não precisei de analise por causa disso. Aproveitei ao máximo uma fase que a cada geração vem se encurtando cada vez mais, hoje uma criança de 13 anos é chamada de pré-adolescente e não gosta de ser chamada de criança. 
Talvez alguns momentos que vou descrever a seguir podem estar cronologicamente invertidos, mas a intenção aqui é viajar no tempo, deixar um pouco a correria do seculo XXI e se deixar levar resgatando lembranças que as vezes deixamos escapar do pensamento.
Quando cursava a oitava série, fizemos um baile no Clube Municipal para angariar fundos para nossa formatura no fim do ano, afinal estávamos saindo do ensino fundamental para o ensino médio, o tão esperado e temido Colegial. Foi uma experiência interessante, ir a um baile para trabalhar e não para se divertir. Lembro até que nessa noite faltou energia e ficamos as escuras por algum tempo, mas no fim deu tudo certo.
A vantagem de se estudar numa escola de uma cidade pequena é que você já sabe quais professores vai enfrentar no ano seguinte. Graças a Deus, tivemos bons professores, me lembro da maioria deles, nosso professor de português era muito sério e severo, sua esposa lecionava história, tínhamos até aula de OSPB e Moral e Cívica (deviam voltar). Fazíamos "festa americana" ou "Hi-Fi", os rapazes levavam bebidas e as moças salgadinhos, regada ao som do bom e inesquecível anos 80, fitas cassete e discos de vinil rodando em aparelhos de som muitas vezes sem potencia, mas eramos felizes e nos divertíamos a valer. Cada semana era na casa de um colega diferente, até na casa de um professor chegamos a fazer festa.
Estudei boa parte do tempo no turno da manhã, saia da aula ia em casa almoçar e depois ia pra oficina do meu pai ajudá-lo. Mas me lembro de um certo ano quando estudei a tarde e após as aulas ia com meu pai pescar lambaris e piaus em seu bem cuidado fusquinha azul, aliás uma das coisas que fazíamos muito era pescar, naqueles tempos os rios eram mais generosos, na verdade não havia tanta poluição como hoje. Gostava muito quando meu tio Laurinho ia para Mirai e nos chamava para pescar de tarrafa, era muito divertido apesar da minha tarefa que era desagarrar a tarrafa das galhadas de bambus e arames que meu tio insistia em jogar a rede em cima, meu pai e meu irmão cuidavam da parte de retirar os peixes e limpa-los ali mesmo na beira do rio. 
Hoje vejo muitas crianças e adolescentes sem energia, sem estímulos, costumam dizer que não tem nada para fazer. No meu tempo, andávamos de bicicleta, percorríamos grandes distancias mesmo a pé, indo ao Clube Mirai, para alguma cachoeira ou para roça de algum primo, o que para nós era diversão pura, se não tínhamos o brinquedo inventávamos, alguns jilós ou melões de são caetano viravam boizinhos, um pneu velho servia para corrermos pelas estradas, com talos de mamão fazíamos um moinho para brincar no córrego que corria na porta da cozinha, um galho de goiabeira ou "esperta" dava um excelente gancho de atiradeira, só parávamos para comer as delicias feitas pela minhas tias e avó no fogão a lenha. 
Tio Mauricio na ordenha
Lembro da minha tia fazendo queijo, ficava de prontidão só para comer as aparas que ela retirava enquanto dava forma ao queijo branquinho. Beber o leite direto das tetas da vaca era uma alegria só. É claro que antes disso tinha que ajudar meus primos a buscar vacas e bezerros que insistiam em não voltar para o curral pela manhã. As tarefas rotineiras como limpar o curral, levar o leite até a estrada para o leiteiro, tratar dos animais, levar o almoço ou a merenda para os homens que trabalhavam nos pastos e plantações de arroz eram feitas sem reclamações, sem questionamentos diferente do que vemos hoje quando pedimos aos filhos para arrumarem seus quartos ou fazer alguma tarefa por menor que seja.
Gostava muito de ir com meu Pai nas fazendas quando ele era chamado para consertar tratores, jipes até picadeiras, muitas das vezes o pagamento era feito em produtos, como frutas, legumes e hortaliças. Era feliz e não sabia, ou melhor, sabia sim, não tínhamos  que nos preocupar se a internet caiu, se faltou energia, se o video-game não rodou o jogo preferido, simplesmente vivíamos intensamente a cada dia, correndo de um lado para o outro sem camisa, pés descalços, vento no rosto e sorriso nos lábios.


Abraço a todos, comentem sem moderação.


Obrigado.







          




sábado, 17 de março de 2012

Meu pequenino Mirahy

(Antiga estação de trem, hoje Rodoviária)
Numa conversa informal em casa na hora do almoço, surgiu um assunto que muito me agrada, minha cidade natal Mirai ou Mirahy como está escrito no prédio que hoje abriga à rodoviária.
Em poucos minutos de conversa me vieram lembranças maravilhosas de minha infância querida. Lembranças essas que hoje quero dividir com todos, principalmente com aqueles que partilharam comigo de um tempo tão bom, mas que não volta mais.
Pelo que me lembro, moramos em três casas, a primeira ficava do lado da casa da minha avó Dinaura (falecida) que morava em frente ao campo do Sport e ao lado da Escola Estadual Joaquim Nabuco, onde estudei os quatro primeiros anos de minha vida. Estudava à tarde, lembro das minhas tias Angelina e Cida, levando bolo e café com leite para mim e meu primo Paulo Sergio, ficávamos na grade do portão esperando ansiosos pela merenda. Toda sexta-feira deixava os cadernos na casa da minha avó, pegava uma pequena sacola com meia dúzia de roupas e ia a pé para a roça, caminhávamos por 7 km subindo morro, felizes e cheios de energia já pensando nas brincadeiras do fim de semana.
A segunda casa foi num casarão na Rua Tenente Leopoldino que por coincidência ou não, ficava ao lado da casa da minha avó Laura (falecida), era um casarão antigo, onde na parte de cima moravam meus tios Fernando (irmão do meu Pai) e Luiza, nos fundos desse casarão foi erguido um grande galpão com colunas feitas de toras de eucalipto e telhas de amianto onde funcionou por algum tempo a oficina mecânica do meu pai conhecido como Luizinho do Cristiano (meu avô). Adorava brincar no meio dos carros velhos e peças sujas de graxa e gasolina, pegava as ferramentas do meu Pai para fazer carrinhos de rolimã ou pequenos carrinhos feitos com restos de peças automotivas.
Mesmo com pouca idade, tinha muita responsabilidade ou pelo menos me era delegado. Lembro de minha mãe que saía para ir à rua ou até a casa da minha avó e deixava sob meus cuidados meus irmãos Ronaldo e Leonardo que tinha um ano ou próximo disso e eu trocava fraldas (de tecido e com alfinete) dava mamadeira, colocava no carrinho e balançava, balançava.
A terceira e última casa, que por sinal é a mesma onde moram meus pais hoje, fica na R. Nova que na verdade se chama R. Dr. Abraão Osta, lá sim foram os melhores anos da minha infância, pois, foi onde tínhamos quintal, barranco, pés de frutas, etc. Tínhamos uma cachorrinha que adora correr atrás da gente como se fosse um pique pega. Lembro do dia em que ela desapareceu e fui procurá-la e fui informado por uma moradora próxima ao Hospital que ela havia sido envenenada e o lixeiro a levou. Voltei pra casa e dei a noticia para minha mãe, nossa cadelinha tinha dado a luz a três filhotes, que tivemos que criar com mamadeira feita com um grande vidro de xarope e um bico de borracha. Dos três filhotes ficamos com um macho.
Lembro dos meus amigos de infância Ronaldo e seus irmãos Nandinho e Renato, os irmãos Juscélio e Juscelino, Silvinho, "Sebastiãozinho", Doriquinho, entre outros. Ronaldo era o mais chegado, apesar de não estudarmos na mesma série, íamos e voltávamos do colégio juntos, estava sempre lá em casa, jogando futebol de botão, brincando ou simplesmente vendo TV.
Onde hoje é o bairro Jacaré era um loteamento com muita terra e estradas largas onde havia muito espaço onde jogávamos bola. Tínhamos nossa própria trave feita de bambu e era guardada no nosso quintal. Tempo bom, ouvíamos de longe o apito das fábricas que funcionavam a todo vapor, onde meu pai trabalhou muitos anos (em ambas), onde por várias vezes levei almoço pilotando uma bicicleta com uma só mão. Não precisávamos de relógio, pelos apitos sabíamos que horas eram.
Aos sábados quando levava o almoço para meu pai, ia para a chácara dos meus tios avós Geraldo e Joselina que ficava em frente ao portão da fábrica, adorava a tia Joselina que além do carinho que tinha por mim, fazia deliciosos sucos de frutas, doces, bolos, eu e meu irmão brincávamos entre pés de goiabas, mangueiras pulando um pequeno córrego que cortava o terreno. Isso quando não íamos para o Clube Mirahy aonde por muitas vezes chegávamos muito antes da abertura da piscina que era cuidada pelo Sr. Antonio, sua esposa e filho que sempre nos trataram com carinho e respeito.
Adorava ir com meu pai ao campo do 1º de Maio, torcer pelo "Cachimbo" apelido do meu primeiro time de coração, tinha jogos aos sábados a noite, pois, é até hoje o único estádio com iluminação. Como meu pai trabalhava na fábrica como mecânico e motorista, viajávamos muito com ele, principalmente quando era para levar o time a algum jogo fora da cidade, achava o máximo viajar encolhido no porta-malas das Kombis que levavam os jogadores, ia brincando e zoando com eles, lembro-me do goleiro Pastel, do Café, Gaúcho Marquinhos e o engraçado massagista Tinão (me perdoem se escrevi errado).
Poderia descrever longas linhas sobre minha infância, mas vou parar por aqui e quem sabe em outra oportunidade contarei mais sobre minha infância querida e essa cidade na qual tenho orgulho de ter nascido. 

Abraços a todos,
Obrigado.